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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Chuva de Gelo


Todo ano chove pedra de gelo.....
Ocorre sempre no final do mês de outubro ou inicio de novembro quando a seca esta acabando e começa a chover forte, algumas mudanças bruscas de temperatura criam uma pequena tormenta. Neste pequeno intervalo de tempo costumamos vivênciar uma espécie de tempestade tropical com fortes ventos, raios e pedra de gelo.

Angelim
Angelim Morcego - Goiás
Os estudiosos dizem que o efeito estufa promove um desequilíbrio o clima quente e seco é trocado rapidamente por uma frente fria e as tempestades tropicais chegam rápido. Desde criança vejo isso acontecer, e não me lembro de efeito estufa naquela época, mas me lembro das chuvas de gelo ou chuva de granizo.  Estes pequenos pedaços irregulares de gelo de todos os tamanhos, são despejados das nuvens junto com fortes ventos, rajadas assustadoras, sem pingo de chuva, as janelas começam a bater, o vento empurra as copas das arvores, o céu fica negro, o tempo esfria e o vento gela, e alguns tilintar de pedras de gelo batendo na janela de vidro confirmam a tempestade. 
Derrepente as pedras de gelo caem do céu, pesado e com violência. Na zona urbana quebra as telhas, derruba as arvores nas calcadas, algumas caem sobre os carros, outras na rede elétrica e interrompem o fornecimento  de energia, acaba a  luz,  interrompe o celular e a Internet, tudo para, em alguns minutos a cidade testemunha um maior estrago.
E na zona rural o que acontece ?
Longe da cidade, o gelo também caem forte, as plantações são afundadas, as flores arrancadas, as folhas mutiladas, na mata as arvores caem, gigantescas e centenárias, não resistem a força da tempestade. As arvores quem caem na cidade e no mato são mas mesmas, mas o destino delas são muito diferentes. Na cidade será limpada pela prefeitura, cortada com moto serra no dia seguinte, um caminhão fará a limpeza, e em algum lugar na periferia em um terreno baldio, um local limpo e plano e de fácil acesso para o caminhão basculante entornar e despejar o material orgânico. 
E na mata quando uma arvore é derrubada pelo vento, junto um barranco enorme desmorona, o tronco vira do avesso, uma enorme cratera é aberta e expõe o subsolo, minhocas, lagartos e aranhas, perdem  a moradia. Na outra ponta a copa da arvore, onde habitam as aves e formam os ninhos,  vem abaixo derrubando outras ainda menor, o tronco encrava no chão abrindo um valeta, uma trincheira de madeira de lei, solida  e roliça atravessa, são dez metros de tronco, com casca despedaçadas e espalhadas pelo chão, as folhas em breve ficarão secas os galhos mais frágeis apodrecem mais rápido, os animais tem que desviar o caminho, os pássaros descem para comer os insetos, enquanto os lagartos comem os ovos que estavam nos ninhos destruídos, mas a natureza se renova e tudo se transforma.
Assim a chuva de pedra de gelo todo ano passa destruindo o que estiver pela frente, obrigando a renovar e mudar, desviar o caminho, buscar novas rotas, apresentar outros suprimentos, inovar os alimentos e regenerar o eco-sistema abrindo espaço para as novas arvores, sementes que estavam cobertas pela copa e não deixavam crescer, afogadas pela sombra gigantesca da centenário copa de arvore,  monumento verde. 
Abençoada então toda chuva de pedra de gelo que conseguir derrubar nas matas grandes arvores, pois são apenas algumas menos providas de raízes profundas que serão arrancadas do chão, mas a natureza se incumbirá de transforma-la em precioso alimento e espaço para renovação.
Triste porem e a arvore urbana, que jogada ao leo não servira para nada, sua sombra fará falta esperando a boa vontade da prefeitura que talvez plante outra no mesmo local. Longe e abandonada no chão seco sem regeneração onde foi despejada vai secar e apodrecer esquecida, ate que algum fogo sem explicação transforme aquele monte de madeira em carvão. 

Morreu ou Nasceu ?
Diante a tamanha agressão, onde esta a nossa chuva de pedra gelo, aquela que nos move e faz renovar, rompendo fronteiras para as novas gerações, chegando de forma generosa mas avassaladora, criando e doando espaço, tempo e suor para assim como a arvore do mato, permitir que a copa da experiência sirva de húmus transformador e renovador. Acredito que todos passamos por tormentas e tempestades, aceitar porem esta agressão como uma forma natural de renovação é para o ser humano racional uma difícil tarefa e penosa lição, mas para os seres irracionais, habitantes das matas e florestas este é simplesmente o decurso natural da vida.

13 comentários:

  1. Quando eu estava lendo o seu texto, eu lembrei que num dia 24/06, em Bocaina, mas eu não lembro o ano, não lembro se foi 1982, não lembro...
    Tinha procissão e tinha jogo de copa do mundo.
    A procissão estava vazia e em seguida a procissão caiu uma chuva de pedra.
    E qual foi o diferencial: EU NUNCA TINHA VISTO PEDRAS DE GELO DAQUELA TAMANHO.
    As pedras de gelo pareciam pratos: isso mesmo. Eram finas e largas, realmente num formato de prato raso.
    Foi de por medo.
    E causou bastante estrago.
    O mastro de São Joao erguido na praça durante a procissão fracassada ficou destruído.
    E toda a cidade comentava que era praga do padre, pois em vez de ir na procissão de São João, todo mundo ficou assistindo jogo.

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  2. Paula Maria Pinto de Carvalho6 de novembro de 2012 às 10:33

    Olá Kijeca!
    Você é mesmo um sábio, seguramente habitante das matas como eu.
    Os habitantes das matas e das florestas sabem que é difícil
    essa mudança e esse "risco" para os urbanitas, ou até mesmo aqueles
    que vivenciam o campo mas não têm coragem de adentrar nessa mata que
    por fora parece caótica e perigosa, mas que por dentro tem um
    equilíbrio que quando compreendido é o mais lógico e o mais simples de
    todos.

    O ser humano quer dominar essa natureza porque sempre os seus
    objetivos, as suas ambições tão efêmeras são mais importantes para
    ele. O que ele esquece é que a natureza vem um dia sem avisar e
    arrebata tudo isso, pondo em dúvida tanta importância dada talvez às
    coisas menos primordiais e importantes da nossa existência.

    Quando a tempestade vier, fechemos as janelas mas não as cortinas; abramos
    nossos ouvidos, observemos o caos e aprendamos com ele sobre morte e vida, raiva e amor, apego e desapego, fim e recomeço.

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  3. Adorei, é uma leitura fácil e verdaeira.Esse kijeca parece um historiador!
    Quero ler mais!


    elisabete

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  4. Esses fenômenos da natureza ocorrem muito por aqui no interior, devido o clima ser muito quente e seco. A chuva aparece derrepente e são inevitáveis os granizos.
    Quando criança minha mãe não deixava que colocássemos o “gelinho” na boca que fazia mal. Naquele tempo como filho obedecia aos pais, ficava morrendo de vontade de saber se a tal “pedra de gelo” tinha o mesmo sabor daquele da geladeira.

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  5. Já aconteceram muitas tempestades dessas por aqui nos campos e mesmo sabendo que a natureza repõe os estragos,dá muita dó.

    Milena Moimaz

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  6. A agua quando cristalina, pura, límpida, sem impurezas, sem bactérias, e seres vivos não existe na natureza, quando a fruta cae da arvore e chove, apodrece na terra é este o processo de germinação para a nova vida, para nascer tem que morrer !

    Assim é a natureza, assim é a vida !

    ACP

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  7. Tempestades são muitas vezes necessárias em nossa vida para que possamos treinar a capacidade de vencê-las e renovar nossas forças!!


    G.B.

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  8. Chuvas com granizo estão mais frequentes,mas ainda são espetáculos de se ver.
    Na cidade ou nas matas é sempre avassaladora.

    natália

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  9. Incrivel o que o homem fez com a natureza! Arrancou sem piedade tantas arvores que agora recebemos em troca a natureza enfurecida.Triste para o homem do campo que respeita e vive dessa natureza!

    Aldo César

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  10. Pedra de gelo?Granizo?Arvores caídas? Não está na hora de repensarmos o homem e a natureza???

    bgc

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  11. Importante a capacidade de renovação da natureza e do ser humano,replantar e recomeçar;atitudes que só fazem o bem para anatureza e para nós.
    Essa estória nos leva a refletir.

    Ana K.

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  12. Hoje nesse feriadinho eu adoraria ver uma chuva nem que fosse dessas de gelo.O tempo está muito maluco mesmo, muito quente e seco.Para encontrar o equilíbrio, as vezes a natureza tem que se esforçar muito.

    Diogo

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  13. Abençoadas chuvas mesmo as de gelo,estão aos poucos nos deixando! Vamos sobreviver sem elas Kijeca?

    Márcia Maria

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